Há mais fantasmas do que vida em mim
Ontem entrei na igreja na qual eu sempre entro quando vou à cidade. Fui lá chorar. No caminho antes de chegar, já era esse o meu intuito, ir à igreja chorar. Assim ninguém me vê. Ensinaram-me a não chorar à frente das pessoas, porque nos julgam fracos. Eu já sou julgada de tanta coisa (também julgo e muito!) que mais um motivo menos um, tanto faz. Mas desde que duas pessoas me fizeram enxergar como era vista, eu tento chorar sozinha, sempre.
Enquanto estava sentada num dos últimos bancos de trás, ao lado de uma barata que inaugurei desde logo minha amiga. Até lhe dei um nome mas não me lembro.
Bom, enquanto estava eu ao lado da minha amiga e chorava silenciosamente para não interromper a missa que decorria, olhava para as pessoas de muita ou pouca fé, porém com fé. Considero que sempre que alguém entra na casa de Deus é sempre com fé, em busca de algo, embora não se saiba o quê e não se tencione buscar nada.
Olhava as pessoas, observava os pormenores ao meu redor, ao mesmo tempo, que me perguntava qual é a razão divina para ser como sou e encontrei uma resposta: não há. Não há uma razão divina para quem nasce com uma deficiência, assim como, para quem morre cedo, para quem já nasce morto, para a fome, para a violência... não há razão divina. Só a ciência consegue explicar milhões de situações que ocorrem na nossa vida, no nosso dia a dia. A ciência, a Natureza e a falta de capacidade dos homens de saber viver.
Mas aí a gente vive... mesmo assim. Mesmo assim, não se desiste. Mesmo assim, é a Deus que procuro na agonia, na tristeza, na solidão, no desespero e na alegria. Não sei bem porquê, não tenho respostas para quase nada na vida da parte Dele. Mas tenho de me agarrar a algo, tenho de me segurar em algo. É na mão Dele que me seguro, que me sustento, mesmo que Ele não me dê razões, eu acredito.
Merecias que eu não acreditasse em Ti, ouviste?!
Mas, eu acho que a vida é um propósito cheio de outros propósitos e se mesmo sem uma única razão eu Lhe procuro, haverá um propósito que espero um dia compreender.
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