Frase do mês
Pela primeira vez eu disse que sim
'' - Queres?''
Alguém
Esta pergunta foi-me feita ainda esta tarde por uma jovem na paragem de autocarro. Eu decidi fazer desta pegunta a frase deste mês, pelo episódio em si em que a atitude da rapariga me tocou positivamente e que foi diretamente para comigo.
Ora então, foi assim: estava a chover quando fui para paragem de autocarro para regressar a casa e com a pressa de fugir da chuva, com o saco de compras na mão e uma capa na outra, não tive oportunidade de limpar a baba que tinha no queixo. Já expliquei aqui que me babo e é algo que embora não seja de forma abundante como em criança, não consigo controlar. Acontece quando estou com pressa como foi o caso, doente, distraída... Porquê? Para quem não sabe, devido à minha deficiência, nasci com um glândula salivar ao contrário e o problema da fala também não ajuda, mas esperem lá, não falo a babar-me. Mas não ajuda, por causa da articulação, produz muito saliva. (esta informação é para que os novos leitores não fiquem à nora).
Continuando, cheguei à paragem, pedi espaço para me sentar, já que havia e as pessoas que estavam de pé não estavam interessadas em sentar-se e sentei-me ao lado dessa rapariga.
Estava a acertar-me quando senti um toque no meu braço, virei-me e a jovem perguntou-me em tom baixo sem chamar a atenção de ninguém:
'' - Queres? - estendendo-me gentilmente um lenço de papel.
- Ah... Sim, obrigada. - respondi, sensibilizada com o gesto''.
Porquê que isto me sensibilizou?
Porque em muitos anos de vida, nunca alguém se dirigiu a mim de forma tão delicada para me dar um lenço de papel para eu limpar a boca.
A maioria das pessoas olham e fazem cara de nojo e em situações passadas, já tive pessoas conhecidas, até que eu considerava amigas que me atiravam à cara de uma forma bem invasiva e sonora: ''LIMPA A BOCA! 'TÁS-TE A BABAAAAAAAAAR!'' - chamando as atenções das pessoas presentes todas para mim, deixando-me constrangida e envergonhada.
Por isso e por outras razões também relacionadas com a minha deficiência é que eu deixo de falar com algumas pessoas. Mesmo depois de lhes pedir para não fazerem isso e, sim, fazerem-me só um sinal, continuam... Então elimino-as da minha vida o máximo que eu consiga.
Claro que, não é porque eu tenho uma deficiência que tenho de andar suja e com uma imagem pouco cuidada e, simplesmente, não me importar porque ''eu sou assim'', e as pessoas têm de ver isso sem me chamarem à atenção.
Mas também, não é porque eu tenho uma deficiência que os outros podem abordar-me de forma invansiva e constranger-me em frente de meio mundo e descredibilizar-me.
Não é porque alguém precisa de ajuda que quem está a ajudar tem o direito de descredibiliza-la.
Pela primeira vez eu aceitei um lenço de papel que alguém desconhecido me ofereceu com a intenção de me dizer que tinha o ''queixo molhado'', porque a rapariga fê-lo muito delicadamente com a preocupação de não chamar a atenção dos restantes. Sem me dizer para me limpar, disse-mo.
E está feita a frase deste mês.
Falta pessoas assim no mundo.
Beijs.