6 de outubro de 2020
Hoje é Dia Mundial da Paralisia Cerebral.
(In)felizmente faz parte de mim há 29 anos e de alguma forma eu escolhi desde muito cedo que ia viver sem ela, mesmo vivendo porque não dá para viver a fingir que não tenho paralisia cerebral, pois eu ''vejo-a'' todos os dias através das dificuldades motoras que ela me confere.
Eu perdi a vergonha e o medo de dizer '' eu tenho paralisia cerebral'' nos dois museus em que estive a trabalhar. No primeiro museu fui estagiária e no segundo museu trabalhei mesmo. Quem me tirou esse medo foram os visitantes que assim que percebiam a minha deficiência, perguntavam-me ''a menina tem paralisia cerebral?'', imeditamente eu ficava desconcertada, respondia a medo, baixinho que sim. Depois ao longo do tempo, eu entendi que aquela pergunta espontânea que os visitantes me faziam, era uma forma de me dizer que não faz mal dizer "eu tenho paralisia cerebral" pois é o que tenho, é o nome da minha deficiência. Eu tinha medo porque muitas pessoas que não estão minimamente interessadas em aprender do que se trata ou por pura maldade punham as minhas capacidades em causa e isso mexia muito comigo. Ainda hoje mexe. No entanto, eu aprendi que a ignorância e a má fé são escolhas como tantas outras coisas que escolhemos para a nossa vida.
Eu não posso tirar isto de mim.
Então que posso fazer? Viver apenas sem permitir que algo ou alguém me paralise, sem permitir que me roubem o comando da minha vida, sem permitir que escrevam a minha história de vida por mim, sem deixar que me cortem as pernas.
E acho que tenho conseguido até bastante bem e do que depender da minha determinação, hei-de conseguir mais.
Quanto aos meus complexos, ainda tenho muitos. Mas como tudo na vida, ao longo do tempo tornar-se-ão cada vez mais pequenos até que não existam mais.