Relembrando posts antigos #3 Qual é a vossa opinião?
A juventude e a sua tola vaidade
28-10-2018
19h35
19h35
Ele é bonito, bem apresentado, jovem. Tem o mundo aos seus pés. É menino e homem conforme lhe convém. É forte, nada o detém. A pele é fina e limpa sem nenhuma marca que o possa condenar. Todos o admiram. As meninas que passam por ele, olhem-no de esguelha e dão risinhos silenciosos, ele sorridente e convencido ignora, porque ela dá-lhe tudo sem ele ter de lhe pedir nada. Estala os dedos e pronto. Os outros são uns coitados. Ele não. Ele é mais. É demais! As meninas vaidosas passeiam airosas, fazendo balançar as conchas porque, disfarçadamente, sabem o que lhes vale um corpo bonito. Deitam olhares aos rapazes que passam e falam sobre novas experiências. Sorriem quando eles se aproximam, fingindo timidez e inocência. E nada é mais importante do que a própria vontade. Haja paciência para os dilemas alheios. Não há tempo para esperar, escutar nem compreender. Há uma vida para viver! Mas, eis um dia que algo muda, ela já não lhes serve como servia. Surpreendidos, questionam-se. Olham ao seu redor. As meninas já não o cobiçam, as pessoas já não o admiram como dantes. Elas já não estão tão bonitas, as peles endureceram e formaram-se rugas e marcas. Tentam agarrar algo, mas não têm nada para agarrar. O que aconteceu? Aconteceu-lhes a vida. O tempo passou e com ele, ela foi. Agora têm de lutar sozinhos. O tempo parece que pára nas nossas mãos, mas é uma ilusão. Cuidado para não ficar preso nela. O tempo nunca pára e traz consigo as dificuldades da vida, levando-a aos poucos. A vida acontece e não perdoa ninguém.
Do que é que estou a falar? Estou a falar da juventude e da sua tola vaidade, que faz de todos nós o que quer e, de repente, abandona-nos sozinhos com as dificuldades que a vida nos impõe. E agora o que somos? Somos espectadores da juventude dos que vêm atrás de nós a cometer os mesmos erros que nós. Mas que podemos fazer? Pouco ou nada. A juventude apanha todos na sua rede, dá-nos a experimentar o seu melhor sabor e, num segundo, desaparece sem deixar rasto. Resta-nos as histórias, as amizades eternas, os amores antigos, as noites que nunca morrem nas nossas lembranças. Resta-nos o amargo arrependimento do que devia ter sido melhor vivido, a mortífera saudade, resta-nos as lágrimas felizes por recordar as pessoas, os amigos que fizeram parte, aqueles que permanecem e aqueles que o tempo afastou. Resta-nos a taça de vinho ao nosso lado e todas as marcas de uma juventude cheia de tudo. Resta-nos a vida.
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